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sábado, 28 de janeiro de 2012

"Com nota 900 na redação do Enem, presidiária no Ceará é aprovada no Sisu para UFC"


Nos últimos dias temos compartilhado esta notícia pelo Facebook e sabendo que Cynthya fez sua opção pelo curso de História da UFC fiquei muito feliz em ver os comentário de nossos colegas nas comunidades, aí vão alguns...

"meus sinceros parabéns, e tenho certeza que ela será muito bem recebida no nosso curso!" (Deivson Ferreira)

"Aewww... que bom que de tantas notícias tristes nos jornais outras nos mostram que coisas boas também acontecem..." (Carolina Maria Abreu Maciel)

"E acredito na re-socialização dos presidiários SIM! " (Felipe Grangeiro)

... entre outros. É muito bom saber que dentro do sistema penitenciário brasileiro, falho, degradante e criminalizante, podemos encontrar histórias de superação como a desta mulher.
Queremos aqui também deixar nossos sinceros parabéns às professoras que lhe estimularam e às outras detentas que conseguiram seus diplomas de Ensino Médio. Que a Cynthya sirva de inspiração para outras pessoas que se encontra em condições parecidas, que suas história seja exemplo para o Estado e a sociedade preconceituosa em que vivemos.
Expressamos aqui nossa mais sincera receptividade a esta mulher que não curvou a cabeça diante da posição que lhe imputa a sociedade; cabeça erguida, aqui você será mais uma guerreira a trilhar o caminho do aprendizado.

Eduardo Ribeiro



Se não tivesse de pagar 25 anos de reclusão, a alegria da paulista Cynthya Corvello, 40, seria completa. Detenta do Instituto Penal Feminino Auri Moura Costa, único presídio feminino do Ceará, Cynthya fez o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e conseguiu se cl
assificar na primeira chamada do Sisu (Sistema de Seleção Unificado) para uma vaga em História na UFC (Universidade Federal do Ceará).

Na sua opinião, foi a sua boa pontuação na redação que fez com que ela garantisse a aprovação. Ela atingiu a nota de 900 – o máximo é de 1.000 pontos.

“Na realidade, não imaginava que fosse conseguir. Não achava que tinha capacida


A decisão de se inscrever no Enem veio de um estímulo de umas professoras dos EJA (Educação de Jovens e Adultos), que dão aula no presídio feminino. “A Magnólia me estimulou dizendo que a prova era muito mais para saber se as teorias da sala de aula se aplicam no cotidiano dos alunos”, conta. No presídio, outras 14 detentas também fizeram o Enem. Seis delas conseguiram certificação do ensino médio.de intelectual”, descreve, emocionada. Cynthya foi condenada a 25 anos de reclusão, em regime fechado, por coautoria em duplo homicídio seguido de roubo, ocorrido há quase 20 anos, em 1993. O problema é que ela ficou foragida até 1998, quando resolveu apresentar-se numa delegacia do Ceará. “Fiquei presa de 1998 a 1999, depois consegui um semi-aberto até o julgamento, em 2006”. Condenada a 25 anos e quatro meses, ela pagou, até agora, dois anos e sete meses da pena.

Cynthya já havia terminado o Ensino Médio há vários anos, mas assistia, vez ou outra, às aulas como ouvinte na turma de terceiro ano no presídio. Na maior parte do tempo, ela se dedica à organização da biblioteca. E é lá que reserva espaço para seus autores favoritos: Nietzsche, Lya Luft, Kafka. E foi também no meio dos livros, com sua jornada de 4 horas na biblioteca que ela conquistou mais de um ano de remição da pena.

Se a presidiária somar os dias de remição de pena que ganhou – a cada três dias trabalhados, ela fica com um dia a menos na pena – ela teria direito ao regime semiaberto daqui oito meses. “Vou ter que contar com a boa vontade do juiz”, disse. O pedido para a liberação para as aulas já foi feito, pela Defensoria Pública, através do Núcleo para Presos Condenados, que acompanha o caso de Cynthya. O resultado deve sair antes do começo das aulas.

Inscrição sob escolta

Para conseguir se inscrever na primeira chamada da universidade, Cynthya precisou contar com a sorte e boa vontade dos funcionários da UFC. Logo que soube do resultado, pediu que o pai, que mora em São Bernardo do Campo, em São Paulo, mandasse os documentos necessários, pelos Correios: histórico escolar e comprovante de segundo grau (o atual ensino médio). O material não chegou em tempo hábil. Ela teve de se inscrever com cópias.

E, com autorização judicial, chegou “aos 47 minutos do segundo tempo”, minutos depois do término das matrículas. “Tivemos de ligar e explicar tudo para eles”, diz, aliviada. Uma escolta de policiais militares acompanhou Cynthya até o Campus do Pici, da UFC, onde era realizada a matrícula.

A pré-universitária conta que está preparada para um possível preconceito que possa sentir nas salas de aula da universidade. “É um assunto complexo. Se eu tiver vergonha da minha situação de presa, não posso querer que as pessoas me tratem com respeito”, afirma.

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